segunda-feira, 21 de julho de 2008

Segundo nossa tradição, o sono corresponde a 1/60 avos da morte. A nefesh habamit (alma animal) reencontra seu lugar em malchut (reino); o ruach (espírito?) volta ao lugar ao qual está ligado. Um ruach puro reencontra, assim, o gan éden (paraíso), vai à escola do mundo superior onde aprende a Torah. Mas cada um segundo o seu nível; e se ele está ligado à exterioridade, às coisas do mundo, ele errará segundo suas afinidades.

O corpo é mantido por um fio, ligação necessária da alma para manter suas funções vitais. A alma reencontra, assim, os mundos superiores e passeia segundo suas afinidades. Têm lugar, assim, os sonhos, nos transmitindo impressões que são, em seguida, traduzidas ao alcance do consciente.

Seguem aqui algumas considerações sobre este assunto. Citarei um artigo, muito longo, mas interessante, de Spartacus (Spartakus FreeMann, 15 Ellul 5764), publicado no site hermesia. Em razão da extensão do artigo e da riqueza das citações, deixo ao leitor as partes mais importantes para a reflexão e para o estudo, sem maiores comentários.

“Mesmo que tenha escondido minha face à Israel, Eu quero me comunicar com ele pelos sonhos” (Chagigah 5b[1]).

Segundo o Zohar I, 183b, “nada se materializa neste mundo sem que tenha sido antes revelado a uma pessoa em um sonho”; e, Zohar I, 251b, “antes de tudo, os decretos da Corte Celeste são mostrados nos sonhos aos filhos do homem; em seguida, após um curto lapso de tempo, as coisas acontecem”.

“Um sonho pode nos revelar nossos pensamentos íntimos os mais secretos e os que mais recusamos, nossos medos, nossas aspirações, nossos desejos (ver Berachot 55b). Em uma palavra, o sonho é uma arma, um elemento de poder que possui o ser humano para compreender e apreender a Criação e seu Criador. Ainda, segundo Berachot 55b, há três tipos de sonhos que se realizam: um sonho matinal, um sonho de um amigo que nos diz respeito, um sonho interpretado em meio mesmo de um sonho.”

Zohar I 183b, 199b: “um sonho que não é interpretado é como uma carta que não foi lida; ele se realizará mesmo que não estejamos conscientes”.

Percebemos (ou recebemos) o sonho como uma descarga energética, como um flash de luz, que nos imprime com uma sensação. Em seguida, nós a traduzimos de forma que ela possa ser entendida por nosso consciente, por imagens e dizeres, sons, cores ou odores. (Todos esses elementos fazem parte da percepção do homem, e também dos korbanot (sacrifícios, serviço do Templo).) Mas esta lembrança não é senão uma leitura literal; sua interpretação implica em encontrar a mensagem que ela esconde.

“O Criador nos fez de modo a que a parte divina de nossa alma pudesse ser de certo modo, liberada de seus laços físicos durante o sono. Os aspectos superiores da alma se elevam e se separam do corpo. Um aspecto da parte divina da alma permanece junto à parte inferior da alma.

Os aspectos liberados se movem em certos reinos espirituais e lá são implicados, ou seja, com forças espirituais que se encontram na natureza, ou seja, com anjos e demônios. Eles experimentam o que está determinado para eles neste reino. Às vezes, quando eles se encontram nas esferas superiores, eles podem transmitir informações recebidas para a alma que ficou em baixo. Isto desperta a imaginação e produz imagens mentais. Por vezes a informação é verdadeira, por vezes é falsa, dependendo da fonte da informação. A informação entra na imaginação e se mistura com outros pensamentos, desejos e fenômenos físicos, que perturbam a transmissão. Outras vezes, as informações nos chegam claramente” (Rav Moshé Chayim Luzzatto, O Caminho de D-eus – Derech Hashem – III, 1:6).

Cito de novo Spartacus:

“Segundo o Talmud (Berachot 55b), na época do Segundo Templo, haviam 24 intérpretes de sonhos que faziam disto sua profissão. Um dia, Rav Bina’ah teve um sonho e foi à cada um dos intérpretes para conhecer o seu significado. Os 24 intérpretes deram um significado diferente. Isto poderia significar que as 24 interpretações seriam falsas, mas, entretanto, Rav Bina’ah relata em seguida que todas as 24 interpretações se realizaram. Isto quer dizer que o sonho se realizou de 24 modos diferentes na vida de Rav Bina’ah. Isto nos indica que a interpretação do sonho é tão importante quanto o sonho em si e o Zohar I, 183b adverte: “não se deve nunca contar os sonhos a qualquer pessoa, mas somente a um amigo próximo”.

“Aquele que é capaz de discernir o conteúdo da imaginação é alguém que está livre dos desejos físicos como Yossef, que dominou o desejo pelas mulheres, e Daniel que dominou o desejo pelo alimento. Eles podiam interpretar os sonhos. Isto porque a raiz de todos os pensamentos reside nos desejos. Os desejos provocam a imaginação no espírito. Uma pessoa absorvida por pensamentos controlados pelos desejos não pode extrair a essência da verdade que repousa no seio destes pensamentos.” (Tzikas HaTzadik, Secção Sete, Nota 203).

“O Talmud, tratado Berachot, está repleto de instruções relativas às interpretações dos sonhos, e Rav Shelomo Almoli igualmente escreveu um magnífico manual de interpretação dos sonhos, o Sefer Pitron Halamot.”

“Seguem-se alguns exemplos de interpretação, dados pelo Zohar:

- ver um camelo (gemal) em um sonho é signo de que a pessoa foi condenada à morte, mas que foi poupada da sentença (Zohar II, 236a).

- ver a letra Teth significa algo de bom no futuro (Zohar II,230a), pois esta letra é a inicial da palavra ‘tov’, bom.

- ver “vinho em um sonho, se é um rabino, significa ‘bom’ (Zohar III, 14b), pois o estudo da Torah é como o bom vinho.”.

“Pode-se perguntar, pensando de novo à história de Rav Bina’ah, por que razão as interpretações podem diferir. De fato, uma vez que estamos no mundo dos arquétipos, é normal que o que um rabino verá, segundo a sua concepção do mundo, vai diferir do que verá um outro rabino. Os sonhos são, assim, individuais em função das suas interpretações, pois, um mesmo arquétipo, antes de ser uma base comum a todos, será adaptado de maneira diferente pela psyché de tal ou tal outra pessoa.”

“Zohar (I, 150b): “certos sonhos são verdadeiros, outros falsos”, o que corresponde a Berachot 55a “não há nenhum sonho que não contenha em si uma parte de mentira”. Assim, na mensagem do sonho se mesclam elementos perturbadores, parasitas, que devem ser analisados como tal e rejeitados pela interpretação. Além do que, é certo que todos os sonhos não são provenientes de fonte divina ou santa. De fato, pode ser que sejam ressurgimento de pulsões ocultas e destruidoras. O universo dos sonhos é o reino do inconsciente e, como tal, pertence ao domínio do bem E do mal. “Quando a alma do homem se eleva enquanto dorme, si ele é um pecador, sua alma é rejeitada para o lugar das forças e potências do mal, e é por esta razão que a gente se vê em sonho em um outro país” (Zohar III, 222b).”

“Igualmente, os sonhos podem ser utilizados para invocar não anjos, mas demônios, que devem responder, no terreno onírico, às questões colocadas pelo praticante: “as maneiras lícitas de poder invocar cada potência maléfica ou uma potência satânica, é invocar seu nome e, deste modo, o que será dito à pessoa será verdadeiro; você deve dizer, ‘te juro tal e tal Ammon de Non, o ministro da impureza, sentado à esquerda de Samael, vem com um arco curvado em sua mão direita, e a abominação da cruz em sua mão esquerda; vem somente esta noite, em um sonho, ou em este dia em um sonho, e realize meu desejo com ou sem palavras’. Em seguida, faça um voto. Ele virá e se revelará a você, sob a forma de um homem montando um asno preto ou um asno branco, ele se revelará sob uma destas duas formas.” (Citado por Sholem no “O Maguid”, pg. 109). Na tradição judia, é proibido invocar demônios; mas aqui, por meio dos sonhos, o cabalista não transgride nenhuma interdição. Ele sai da esfera temporal e se transporta nas esferas espirituais onde a proibição não age. ‘Te invoco e te peço de aparecer imediatamente, sem demora nem obstáculo, venha a mim em um sonho do dia ou em um sonho da noite, enquanto durmo, e não quando estou desperto.’ (Sefer haMeshiv, citado por Sholem em “The Maguid”, pg. 109).

“O único meio de se evitar de cair sob a influência de demônios ou espíritos impuros, quando entramos no domínio dos sonhos, é: recitar o Shema Israel, e outras preces que se revelarão como proteções muito eficazes para a viagem noturna.”

“Um ponto essencial relativo aos sonhos é que o elemento psicológico e o elemento espiritual são UM. Assim, não se deve rejeitar os elementos psicológicos dos sonhos, pois, eles também podem nos trazer uma mensagem. Isto está colocado em evidência no Zohar I, 199b: ‘devemos nos lembrar de um sonho bom e ele então se realizará; entretanto, se o sonho é esquecido dentro do coração do homem, igualmente ele será esquecido no mundo superior’.

“Em um sonho, uma visão da noite, … então Ele abre os ouvidos dos homens… a fim de que ele possa guiar o homem na sua conduta” (Job 33, 16-17). Os sonhos nos são dados a fim de guiar nossa conduta e nos ajudar a retornar à D-eus. O Zohar III, 105b, nos diz: “uma pessoa que nada revelou em seus sonhos é chamada demônio”.

Os sonhos implantam mensagens no mais profundo de nossa psyqué, uma forma de programação, que em nada prejudica o nosso livre arbítrio, pois, podemos ainda decidir de esquecer-nos dos sonhos.

“Na cabala, segundo Zev Ben Shimon Halevy, os sonhos são repartidos em três categorias. A primeira diz respeito aos acontecimentos imediatos, ligados à tríade de Yessod, o lugar do ego, que trazem aos sonhos os momentos relativos às atividades mundanas. O segundo se focaliza em Tiferet, o lugar do Superego. Aí, as inquietudes da alma são levadas do inconsciente e projetadas na tela do Yessod durante o sonho, a fim de que a atenção do ego seja despertada para estes problemas. A terceira categoria de sonhos no seio da cabala é chamada ‘profética’. Segundo a tradição, a alma, durante o sono, está livre de viajar no mundo da formação; este gênero de viagem se aparenta à viagem astral. Diz-se que aqueles que atingiram um desenvolvimento espiritual suficiente são então capazes de elevar-se até Yetzirah e, de lá, para Briah, lugar onde a alma está em contacto com o Espíem contacto com o Espa estm um desenvolvimento espiritual suficiente sivos rito, ou Ruach haKodesh, que pode lhe fornecer visões proféticas, por meio dos sonhos.”

“O mês de Kislev é considerado pelos sábios da cabala como o mês dos sonhos por excelência. Este mês é o nono mês judeu e, no peitoral do cohen hagadol, a nona pedra era a ametista ou “achlamah”; ora, segundo Radak, podemos aproximar esta palavra de “chalam”, sonho; e,
em seu Livro das Raízes Hebraicas ele nos diz a este propósito, ‘aquele que usa uma ametista em seu dedo, sem dúvida terá sonhos”.

“Da raiz ‘chalam’ vem também a palavra ‘hachlamah’, que significa saúde em geral (física e mental). Segundo alguns, a emergência de um sonho na alma é similar ao fenômeno de uma pessoa enferma , que sua e que, suando, se desembaraça dos humores ruins.

A este respeito, o Bahir (40) nos diz: “Seus discípulos lhe perguntaram: que significa o ponto vogal holem? Ele lhes respondeu: É a alma e seu nome é holem (sonhador); si você lhe obedece, você curará seu corpo no tempo futuro: Mas si você se revolta contra ela, cairá enfermo e ela também”. Aqui, remarcamos que a palavra ‘holem’ que serve para designar o ponto vogal ‘o’ é aparentada com a palavra hachlamah que designa cura, assim como vimos. As três palavras ‘holem, hachlamah e chalam (sonho) derivam da mesma raiz. Na edição do Bahir de Gottfarstein, podemos ler em nota: “É curioso observar que a palavra Halon, que significa janela, está igualmente relacionada à noção de abertura, abertura para o interior do ser, ou para o que é exterior. Nos dois casos, o espaço humano ganha em profundidade e em altura”.

O Bahir (41) continua assim: “E se diz ainda: Cada sonho está na área do holem, assim como qualquer pérola branca procede de veahlamah” (Êxodo 28-19).

“Na Bíblia, quem conhece a interpretação dos sonhos é Yossef haTzadik, que quem cura as almas (e quando a alma é sã, o corpo também). Yossef “escuta um sonho a fim de interpreta-lo” (Gênese 40-15, ele compreende a luz íntima, a dimensão da alma do sonhador que lhe conta seu sonho e, assim, ele sabe como interpretar o seu sonho.

“O mês de kislev termina com a festa de chanukah e o vínculo entre os sonhos e chanukah é mostrado claramente na Torah Or de Rabbi Schneur Zalman de Lyadi. Neste livro, o vínculo é estabelecido entre o Salmo 126 “seremos como sonhadores” e o 25 kislev que marca chanukah. O azeite da chanukah é “o azeite para a luz”, a fonte de luz que revelará o Messias. O vaso de azeite puro é o segredo da revelação da fonte divina dos sonhos, manifestações da essência de D-eus, o nível em que os paradoxos são suspensos e onde os opostos são unidos. O Targum traduz “éramos sonhadores”, “estávamos doentes e fomos curados”. O sonho do exílio, vivido nesta vida, é o aspecto da doença que será curada pelo Messias, pelo sonho da redenção. “Éramos sonhadores” (hayinu k’cholmim) começam pelas letras Kaf e Hey (25 – valor numérico), que fazem alusão ao 25º dia de kislev, começo da festa de chanukah, que dura 8 dias. Oito (que tem a mesma raiz que óleo, “shmone”, “shemen”) é o número do Messias, pois sua lira comporta oito cordas, fazendo o paralelo com os oito dias de chanukah. Oito é o segredo de “az” (então).”

Prece a ser dita por aqueles que não se lembram dos sonhos, segundo o tratado Berachot.

“Senhor do Universo! Pertenço a Ti e meus sonhos são Teus; um sonho que sonhei, mas que não sei o significado… si é um sonho bom, reforce-o e lhe dê força, que ele se realize como os sonhos de Yossef; mas si ele deve ser corrigido, cure-o como as águas de Marah foram curadas pelas mãos de Moisés, nosso mestre, como Myriam foi curada da lepra, como Ezequias foi curado da sua doença, e como as águas de Jericó foram suavizadas pelas mãos de Elias. E como Você, Você transformará a maldição dos malditos de Balam em uma benção, faça, assim, boas coisas com os meus sonhos.” (meditações do ‘Ribono Shel Olam’).”

Controlar os seus sonhos, segundo o Zohar:

“O Zohar nos ensina diferentes meios a fim de mudar a qualidade dos sonhos; meios que devem ser utilizados antes do sono, para que sejam eficazes”.

“Contemplação e introspecção: cada manhã nós somos renovados – nossas almas são tais que uma nova criação. A fim de ajudar a re-criação da alma, é necessário examinar atentamente, em nossos espíritos, os acontecimentos do dia; examina-los de maneira crítica, tentar expurgar os elementos negativos. O tudo é permanecer honesto consigo mesmo e nada esconder a si próprio. Dormir com um espírito claro mais calmo, não se deve fixar os problemas no nível da consciência neste momento próximo ao adormecer. Deve-se simplesmente passa-los
em revista. Colocar então suas questões. Segundo o Zohar, estas questões encontrarão respostas em seus sonhos.”

“A prece e a meditação: podemos utilizar diferentes letras à noite, antes de dormir. Pode-se, ou seja, vibrar, ou simplesmente meditar sobre estas letras, que atrairão então as energias adequadas, às quais atrairão as energias adequadas a que estão ligadas durante o sono. Além disto, as letras ajudarão a alma a elevar-se nas esferas superiores, a fim de receber a mensagem esperada. Pode-se também utilizar a oração cabalística: “Sh’ma Ysrael, Hashem Elokeinu, Hashem Echad”. É o Sh’ma que é a prece da unificação com D-eus. Ela é bastante poderosa como ajuda para entrar em contacto com as esferas superiores.

Pela meditação sobre esta oração e sobre as suas letras, permitimos à nossa alma de conectar-se à Fonte, facilitando, assim, a viagem da alma durante o sono.”

“Os ‘she’eloth halom’, ou as questões formuladas no sonho são um conjunto de técnicas que visam responder a uma questão por um verso da Bíblia. Interpreta-se o verso segundo o conteúdo do sonho e da questão.”

“O cabalista Rabbi Isaac ben Samuel de Acre nos conta o seguinte: “eu, o jovem Isaac de Acre, dormia em meu leito e, no final da terceira guarda, uma questão maravilhosa me foi respondida por sonho, uma verdadeira visão como se estivesse acordado, como se segue: ‘você será perfeito com o Senhor seu D-eus’. Rabbi Isaac observa então toda uma série de combinações de palavras e seus equivalentes numéricos, que se referem ao nome divino YBQ e ‘pensa nas letras do Tetragrama quando elas são pronunciadas, em ruminação conceitual, intelectual e não em uma via que chega à garganta pelo coração…’ (Sefer Ozar Hayim, MS Moscou – Guensburg 775, fólios 100b – 101a).”

“O cabalista aprende, pelos sonhos, a técnica para obter respostas às questões colocadas nos sonhos. Ele deve pronunciar as letras dos nomes divinos que encontramos nos versos bíblicos e cujas letras estão permutadas. Uma vez que a pronunciação do Tetragrama é proibida, pronunciam-se as permutações e as combinações de letras com outras letras diferentes das do Tetragrama. Esta técnica é bastante similar à de Abulafiah, cujo sistema é inteiramente baseado nas permutações dos nomes divinos (tzeruf), sobre as suas meditações (hitchbodedut), no seio da cabala extática ou cabala dos nomes divinos. Mesmo que Abulafiah não tenha recorrido à técnica dos sonhos, há pontes entre suas práticas e aquelas que visam a profecia onírica.”

“Segue o que Abulafiah escreve

em seu Sefer Hayie Olam ha-Ba: “A outra parte (da ciência da tradicional da cabala) consiste no conhecimento de D-eus por meio das 22 letras, pelas quais os Nomes Divinos e os Selos (hotamoth ou combinações diferentes das letras do Tetragrama) são compostos, com suas vogais e os signos de cantilação. Eles (nomes divinos e selos) “falam aos profetas nos sonhos, nos Urim ve-Tumim, no Espírito Santo e durante as profecias”.

“Um outro exemplo de prática onírica de she’elat halom é dado pelo cabalista Hayim Vital, que recomenda: “você ira ao leito, rezará a ‘que Sua vontade seja’ e utilizará as pronunciações dos nomes divinos escritos diante de você, assim como dirigirás seu pensamento à sua questão, seja para descobrir um problema ligado a um sonho e às coisas futuras, seja para conseguir qualquer coisa que deseja e, em seguida, coloque a questão” (Ketavim Hadashim, Rabbi Hayim Vital (Jerusalém 1988), p.8).”

“Em outro lugar, este cabalista propõe uma técnica de visualização de cores, a fim de alcançar a resolução de questões colocadas nos sonhos: “Visualize o que está acima do firmamento ‘de Aravot’, há uma grande cortina branca sobre a qual está inscrito o Tetragrama, em escritura assíria, com certa cor… e as grandes letras lá estão inscritas, cada uma tão grande como uma montanha. E você deve imaginar em seus pensamentos que coloca sua questão, ou elas colocarão seu espírito em sua boca, ou você adormecerá e elas responderão como em um sonho”.

“E, para terminar com Isaac de Acre, deve-se observar que ele utilizava frequentemente a expressão ‘nim velo nim’ que significa ‘estado de vigília e de não vigília’, para exprimir o estado em que ele se encontrava durante suas práticas oníricas. É nestes estados intermediários de consciência que suas revelações lhe foram dadas e é plausível de ver neste tipo de prática uma influência sofista (segundo Moshé Idel em Os cabalistas da noite, edições Allia).

“Outra técnica elaborada sobre os textos místicos hebraicos é o choro místico. Ou seja um esforço para se obter um resultado direto de um choro que é provocado. O resultado buscado vai da consciência total à visão, passando pela revelação profética.”

“Eis aqui uma história tirada de um midrash (kochelet Eclesiastes Rabbah 10:10), que dá um exemplo do choro místico, como procedimento onírico para se obter percepções ou comunicações paranormais: “Um dos estudantes de Rabbi Shimon Bar Yohai havia se esquecido do que havia aprendido. Em prantos, ele foi ao cemitério. Por causa de seus grandes prantos, Rabbi Shimon foi até ele em sonho e disse: ‘quando você se lamenta, jogue três ramos e eu virei’. O estudante foi a um intérprete de sonhos e lhe contou o que tinha acontecido. Este lhe respondeu: ‘repita o seu capítulo (o que tinha aprendido) três vezes e você se lembrará’. O estudante procedeu assim, e recuperou a memória do que havia aprendido.”

“A correlação entre os prantos e a visita ao cemitério parece estar em relação a uma prática destinada a induzir uma visão. A técnica é o conjunto formado pelos prantos, a visita ao cemitério e o adormecimento, que conduz o personagem a obter uma visão ou um sonho profético.”

“A técnica consistindo em utilizar os prantos, a fim de se obter uma visão, é um tema desenvolvido por Abraham haLevy Beruchim, um dos discípulos de Luriah. Segundo ele, a primeira condição do trabalho é o silêncio, seguido por ‘todas suas preces, em cada hora do estudo, em um lugar difícil (para o estudo), que você não pode compreender e apreender senão pela ciência propedêutica ou por algum segredo; então, derrame as lágrimas mais amargas e, quanto mais você chora e se lamenta, faça-o. Aumente suas lamentações, enquanto as portas das lágrimas não estejam fechadas e que as portas superiores estejam abertas’ (MS Oxford 1706, fólio 494b).”

“Hayim Vital diz a este respeito: “em 1566, na véspera de Shabat, no oito de Tevet, recitei o Kidush e sentei-me para comer; e os olhos deixaram rolar lágrimas, e eu estava triste em seguida… que eu estava ligado pela feitiçaria… e me lamentava por causa da minha negligência da Torah durante os dois últimos anos… e porque estava preocupado, não comia absolutamente nada; e eu me repousava em meu leito sobre o ventre, me lamentando, e caí adormecido de tanto me lamentar e sonhei sonhos maravilhosos” (Sefer Ha-Hezyonot (Livro das Visões) , edição A. Z. Aeshcoli (Jerusalém 1954), p. 42).”

“Um outro cabalista, Rabbi Abraham bem Eliezer ha-Levy nos diz: “Os especialistas em conversações com os anjos servidores, por meio de questões em sonhos, ou por meio de uma questão quando acordado, sabem que o anjo dá, algumas vezes, uma resposta de uma maneira clara e suficiente, e, por vezes, por meio de uma alusão, de uma resposta duvidosa, sendo que não compete aos anjos servidores responder à quem quer que seja que coloque uma questão, a fortiori quando alguém coloca uma questão inapropriada, ou quando o anjo não tem a permissão de revelar, ou quando não conhece a resposta, pois eles não conhecem todos os temas” (Igueret Sod ha-Guedulah, MS Oxford, Bodleiana 2569).”




Fonte: http://moshepinto.unblog.fr/os-sonhos-e-a-cabala/


[1] Israel: A referencia aqui não é a terra de Israel, mas ao Israel espiritual, estado este alcançado após a saída do Egito, à limitação da consciência espiritual.